Resenha Crítica – “Jogo de Cena” (2006)

A proposta do filme é apresentada nos primeiros segundos, quando se vê a produção com os equipamentos preparados. A produção não procura caprichar no vestuário, pois não procura deixar as atrizes vestidas iguais às mulheres que contaram as histórias. O objetivo real do filme é ressaltar a intenção de deixar as emoções semelhantes, fazendo um jogo entre a história contada por uma pessoa e, num segundo momento, a mesma história sendo figurada e representada por uma atriz. A proposta fica evidente após alguns minutos (nos primeiros depoimentos que têm em si a função de nos despertar o interesse pela obra, além de nos apresentando o foco documental): histórias da vida real sendo contadas por mulheres que as vivenciaram e a participação do diretor, figurando o espectador. Essa forma de apresentar o filme acaba construindo um universo próprio, além de a todo instante colocar (levantar) questões a nós espectadores que “ficamos” em dúvida sobre o que é real ou não.

A participação do diretor se faz de maneira simples, sem danificar o propósito das entrevistas realizadas. Na segunda história, Eduardo Coutinho pergunta a Andréa Beltrão por que ela chorou ao contar a história. A atriz comenta que é uma história forte e que, num certo momento, ela não consegue segurar o choro. Já Marília Pêra comenta com Coutinho que o verdadeiro choro é feito escondido e por isso ela tentou não chorar ao interpretar uma das personagens. Em outra história, só se descobre no final que a mulher que está contando os acontecimentos é, de fato, a atriz; ela revela, olhando para a câmera, que as palavras usadas não a pertenciam.

O rosto de Eduardo Coutinho nunca é mostrado e isso é uma incógnita, nos primeiros instantes. Quando a câmera segue as mulheres em direção ao palco do teatro, vê-se toda a produção: a iluminação, o equipamento de captura de áudio, assistentes, etc. Neste momento, quando se pensa que Eduardo Coutinho terá o rosto mostrado, percebe-se que a câmera se encontra na frente do rosto do diretor. A intenção é fazer com que Eduardo Coutinho não seja ele mesmo, mas sim, fazer com que ele seja a câmera, dando vida e dando um papel ao equipamento, que captura e conversa com as mulheres que contam as histórias.

O que faz de “Jogo de Cena” uma peça excepcional é pela narrativa diferenciada, contando com um elemento surpresa, que é a interrupção das histórias para que o diretor converse com a atriz. Em alguns momentos, o diretor pede a opinião da atriz sobre aquilo que foi representado, pede também algum comentário e em algumas partes, Eduardo Coutinho conversa e interage com a atriz – vide cena de Marília Pêra falando sobre truque para chorar na representação. Algo interessante de se perceber no filme é a forma como todas as cenas são “arquitetadas”. As cenas são embaralhadas e, certas vezes, o espectador não consegue saber se é a atriz atuando, ou sendo ela mesma. Esse é um dos elementos que tornam “Jogo de Cena” um filme único.

A linguagem que o diretor usa é bem objetiva: as emoções são o grande evento e não importa de quem elas venham: da atriz, ou da mulher contando a história. Eduardo Coutinho não peca nesse trabalho e, dispondo da narrativa criativa, fecha com maestria esse todo esse jogo de cena.

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